Esterco de Pedras

De Nikkeypedia

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Numa época muito distante, quando alguns animais selvagens tinham o poder de transmutar em seres humanos, havia um tanuki (texugo) cujo maior prazer era pregar peças nas pessoas da região em que vivia. Esse tanuki já havia enganado várias pessoas, transformando-se em um perigoso samurai assassino e assustando os viajantes que cruzavam a mata. Também já tinha enganado quase todos os moradores de uma aldeia próxima com diversas artimanhas. Ele tinha orgulho de suas malandras peripécias, porém não se sentia plenamente realizado, porque nunca havia conseguido enganar um garoto de nome Hikoichi que morava na aldeia. O fato tornou-se uma questão de honra e, por toda a lei, o texugo queria, com algum truque bem-feito, iludir o menino ou, no mínimo, fazer alguma maldade para o garoto.

Certa ocasião, quando Hikoichi e sua mãe estavam trabalhando na horta, o texugo ficou escondido em uma moita de capim para observá-los. Percebeu, então, que Hikoichi e sua mãe trabalhavam com afinco, cavando a roça para não perder a época de deitar as sementes. Então, o texugo teve uma idéia maligna.

Quando a noite chegou, o texugo botou em ação o seu plano. Catou todas as pedras que havia na região e jogou-as na roça de Hikoichi. Aquela obra malvada certamente ia atrapalhar muito o trabalho de Hikoichi e sua mãe. O texugo vibrava de alegria só de pensar que, na manhã seguinte, Hikoichi ia chorar de raiva. É verdade que foi um plano trabalhoso, pois o texugo carregou pedra por pedra até a horta durante toda a noite. Ao amanhecer, estava prostrado de tanto esforço, porém satisfeito pelo serviço que certamente deixaria Hikoichi com muita raiva.

Não tardou muito e Hikoichi chegou para trabalhar na horta. Vendo a roça forrada de pedras, o garoto logo percebeu que aquilo havia sido obra do texugo. Desconfiando de que ele pudesse estar por perto para saborear o resultado da sua obra maligna, disse, em voz alta, para sua mãe, que se aproximava da horta.

– Veja que maravilha, mamãe! Alguma pessoa bondosa forrou nossa horta com adubo de pedra. Isso vai poupar nosso trabalho. Podemos voltar para casa e continuar dormindo. Imagine se tivessem jogado estrume de cavalo ou gado, ia ser desagradável e difícil de remover.

Assim, puxando a mão de sua mãe, Hikoichi foi embora para casa. O texugo ficou se remoendo de raiva e jurou vingança. Ato seguinte, passou para a ação. Apesar de cansado do trabalho da noite anterior, começou a retirar todas as pedras que havia jogado na horta. Isso durou grande parte do dia e foi necessário muito esforço. À tarde, o texugo já estava arrastando as pernas de cansaço. Mas era tanta a sua vontade de se vingar, que ele empreendeu muito esforço e foi até o estábulo e depois ao campo, recolhendo todo o estrume de cavalo e de gado que encontrou pela frente. Era um trabalho muito desagradável, mas, decidido a atrapalhar a vida de Hikoichi, fez várias viagens para espalhar estrumes por toda a horta. Depois, esgotado, foi para a mata descansar, certo de que havia causado tremenda dor de cabeça para Hikoichi.

Meses depois, chegou a época da colheita na roça de Hikoichi e de sua mãe. Para a surpresa de toda a aldeia, a horta deles apresentou a maior fartura de toda vizinhança.

– Nossa, mamãe, a colheita foi ótima, graças ao adubo que o texugo espalhou em nossa roça.

– É verdade, meu filho, acho que devemos agradecer a ele.

Enquanto isso, na mata próxima da aldeia, o texugo estava completamente arrasado ao descobrir que a colheita de Hikoichi havia sido muito boa. Em vez de pregar uma peça no garoto, foi ele quem o enganou direitinho. Aquilo era humilhante para um texugo tão cheio de artimanhas. Sim, ele teria que se vingar de alguma forma. Enquanto tentava articular um plano vingativo, ouviu uma voz que o chamava:

– Hei, Tanuki-san, mamãe mandou milho cozido para você. Nossa safra foi muito boa e achamos que você merece nosso agradecimento. Vou deixar os milhos aqui. Até logo e obrigado.

O texugo saboreou o milho cozido com muito prazer. Esqueceu-se de toda a maldade que fizera até então e deixou de pregar peças no pessoal da aldeia. E mais, anualmente, passou a adubar a roça de Hikoichi e sua mãe e, conseqüentemente, a saborear milho cozido após todas as colheitas.


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