Mikio Naruse

De Nikkeypedia

Nome: Mikio Naruse

Profissão: Realizador, Argumentista

Data de Nascimento: 20 de Agosto de 1905

Data de Falecimento: 2 de Julho de 1969

Naturalidade: Japão


Filmografia:

A Record of Shamless Newlyweds (1930)

Pure Love (1930)

Hard Times (1930)

Intimate Love (1930)

Love Is Strenght (1930)

Fickleness Gets On the Train (1931)

Under the Neighbour´s Roof (1931)

Screams From the Second Floor (1931)

Now Don't Get Excited (1931)

The Strenght of a Moustache (1931)

Flunky, Work Hard! (1931)

Ladies, Be Careful of Your Sleeves (1932)

Moth-eaten Spring (1932)

Kashi no aru Tokyo fûkei (1932)

Be Great! (1932)

Chocolate Girl (1932)

Criyng to the Blue Sky (1932)

The Stepchild (1932)

A Man With a Married Woman's Hairdo (1933)

After Our Separation (1933)

Each Night I Dream (1933)

Two Eyes (1933)

Street Without End (1934)

Five Men in the Circus (1935)

The Actress and the Poet (1935)

Three Sisters With Maiden Hearts (1935)

Kimiko (1935)

The Girl in the Rumour (1935)

Tochuken Kumoemon (1936)

The Road I Travel With You (1936)

Morning's Tree-Lined Street (1936)

A Woman's Sorrows (1937)

Learn From Experience, Part I (1937)

Learn From Experience, Part II (1937)

Avalanche (1937)

Tsuruhachi Tsurujiro (1938)

A Working Family (1939)

Sincerity (1939)

Travelling Actors (1940)

A Face From the Past (1941)

Shanghai Moon (1941)

Hideki the Bus Conductress (1941)

Mother Never Dies (1942)

The Song Lantern (1943)

This Happy Life (1944)

The Way of Drama (1944)

Until Victory Day (1945)

A Tale of Archery at the Sanjusangendo (1945)

The Descendents of Taro Urashima (1946)

Both You and I (1946)

Four Love Stories - segmento Wakare mo tanoshi (1947)

Spring Awakens (1947)

The Bad Girl (1949)

Conduct Report on Professor Ishinaka (1950)

Angry Street (1950)

White Beast (1950)

Battle of Roses (1950)

Ginza Cosmetics (1951)

The Dancer (1951)

A Married Life (1951)

Okuni and Gohei (1952)

Mother (1952)

Lightning (1952)

Older Brother, Younger Sister (1953)

Husband and Wife (1953)

Wife (1953)

Late Chrysanthemums (1954)

The Thunder of the Mountain (1954)

Floating Clouds (1955)

Kuchizuke daisanbu - segmento

Sudden Rain (1956)

A Wife's Heart (1956)

Flowing (1956)

Untamed Woman (1957)

Anzukko (1958)

Herringbone Clouds (1958)

Whistle In My Heart (1959)

When a Woman Ascends the Stairs (1960)

Daughters, Wives and a Mother (1960)

Evening Stream (1960)

Approach of Autumn (1960)

As a Wife, As a Woman (1961)

A Woman's Place (1962)

A Wanderer's Notebook (1962)

A Woman's Life (1963)

Yearning (1964)

The Stranger Within a Woman (1966)

Hit and Run (1966)

Scattered Clouds (1967)


“Finalmente Naruse!” É o título do promissor ciclo da Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema que versa sobre a obra de um cineasta bem particular. O próprio nome do ciclo refere o carácter adiável de uma obra sempre conhecida em retrospectiva, mas raramente vista no tempo em que esse se cinema se laborava. Naruse (1905 – 1969) é assim, e à semelhança de Ozu, um realizador póstumo, vítima de um tempo que apenas o revelou na posterioridade. Chegou a vez de Portugal (depois de Inglaterra, Espanha e Canadá) desenterrar um cineasta condenado à arqueologia cinematográfica. Graças à Cinemateca, 40 filmes seus estarão disponíveis (de “mudos” a “sonoros”, passando pelo TohoScope e algumas “cores” tardias). A começar este mês concluindo-se em Abril.

Uma obra extraordinariamente Moderna.

“There are no happy endings for Naruse but there are incredibly enlightened defeats”. – Audie Bock

Reabilitado por sucessivos “finalmentes” de grandes festivais, enquadrando-o como o terceiro grande mestre clássico (com Mizoguchi e Ozu a completarem essa tríade), a recepção da obra de Mikio Naruse lida extraordinariamente bem com o tempo. Um Naruse quer-se com velhice, permitindo a sua modernidade acompanhar os ritmos de um cinema que não sofre de anacronismos e que tem a ensinar bastante não só a uma nova geração cinematográfica japonesa, como mundial.

É nosso apanágio citar a introdução pertinente de Freda Freidberg num artigo obrigatório intitulado “A ética materialista de Mikio Naruse”, para provarmos que a modernidade de Naruse está-se revelando. Dizia Freidberg:

“Aquando da escrita sobre a obra de Mikio Naruse, os críticos inevitavelmente caem em comparações indevidas e numa lista de negações. Sendo uma tardia aquisição para o panteão dos autores japoneses, foi sempre considerado abaixo de Kurosawa, Ozu e Mizoguchi. Fez dramas domésticos íntimos mas a sua obra não é tão alegre ou encantadora como a de Ozu. Serviu como aprendiz do Estúdio Shochiku Kamata, ao lado de Ozu, mas não conseguiu dominar o suave estilo de entretenimento da casa. Ficaram contentes em dispensá-lo dos seus serviços porque persistia em ser pesado, sombrio e depressivo. Foi um realizador clássico cuja carreira abarcou duas eras de ouro do cinema japonês, mas a sua obra não exemplifica a estilística distinta florescida no cinema japonês, tal e qual como foi celebrada por David Bordwell, ou as radicais aberrações estéticas delineadas por Noel Burch. Fez maioritariamente melodramas femininos mas não são tão elegantemente comoventes como os de Mizoguchi, nem estilística, nem emocionalmente.”

Apontado está, a falta de adjectivos ou considerações fáceis para um cinema dificilmente seguro como um todo. Mais à frente, Freidberg refere ainda o desprezo sistemático dos críticos-homens americanos por Naruse. “Estavam encantados pela meninice brincalhona de Ozu e as actuações masculinas de Kurosawa. Podiam localizar Budismo Zen nas estéticas tardias de Ozu e Mizoguchi, ética Zen e Samurai em Kurosawa. Procurando elevações espirituais ou vistosos espectáculos de estilo, encontraram em Naruse uma filosofia muito deprimente, um estilo muito austero.”

É com essa última frase que se define melhor, e em poucas palavras, o cinema esquivo de Mikio Naruse. A sua modernidade persiste em negar considerações fáceis ou blocos temáticos enquadrando a obra num determinado estilo de japonesismo. Rica, porque sem concessões, o corpo artístico de Naruse joga-se num anti-formalismo deliberado e numa ética demasiado materialista para um Ocidental se rever facilmente na imagem ficcionada e turística que tem do Japão: sagrada e religiosa sem o ser, intocável no seu exotismo, a dos imperativos categóricos… Não há nada de mais contraditório sobre isto do que nas narrativas de Naruse. Também elas enquadradas no “shoshimin-eiga” (literalmente, filmes sobre gente comum), tal como as películas de Yasujiro Ozu ou Hiroshi Shimizu, Naruse, contradizendo os seus colegas, opta por desenhar linhas mais fugazes, mais deprimentes na sua realidade. Tentando ao máximo negar o que há de romântico no passar melancólico dos dias, Naruse cria em torno de si filmes rigorosos, quanto baste.

Alicerçados pois numa corporeidade extrema, as suas temáticas predilectas (vida doméstica, ex-gueixas olhando o passado) não se transcendem, como seria de esperar, mas quedam-se violentamente irresolúveis na continuidade virtual do filme que acaba. Bastante conhecida é a frase, – e ilustradora dos antagonismos que falamos – de Akira Kurosawa, seu assistente, sobre a estilística narusiana: “ (…) como um rio profundo, com uma superfície calada, escondendo uma corrente furiosa nas suas profundezas”.

[editar] As mulheres de Naruse

Dos nomes ultra-citados no Ocidente no que diz respeito a cinema japonês clássico, excluiríamos apenas Akira Kurosawa na sua incapacidade de representar uma imagem consistente do feminino. Se em Mizoguchi a mulher é, acima de tudo, um agente embalado na tragédia, vítima de um mundo injusto de homens, e se em Ozu tal presença mais não é do que um dispositivo para assistir placidamente ao rumo de uma suposta modernidade, em Naruse a mulher povoa o drama, é ela que a câmara persegue sempre. Não seria injusto nem exagerado considerar Naruse como um dos maiores cineastas da Mulher, ontem e hoje, pois o seu olhar sobre ela é também ele demasiado honesto para dominar a sua força com caracterizações que ora pecam por excesso, ora pecam por defeito. Pelo contrário, os homens filmados por Mikio Naruse são raramente fortes, muitas vezes à mercê dos caracteres vividos de mulheres solitárias, estas deitando um olhar pouco esperançoso para o futuro (muitas vezes são representadas a recolher dinheiro, empréstimos para assegurar a vida que resta) pois o seu passado implica o tempo fortuito que viveram. Quase toda a sua obra é baseada em romances escritos, justamente por mulheres, nomeadamente a sua autora predilecta – sobre a qual concederia um filme-biografia, Hourou-ki (Her Lonely Lane, 1962) – Fumiko Hayashi.

Não é por acaso que Freda Freidberg – também ela, uma mulher – refere o afecto que a câmara vai adoptando nos olhares, numa mímica de vibrações femininas, que qualquer espectador reconhece quando as suas actrizes de eleição surgem. Entre elas Hideko Takamine, embora musa de outros realizadores (nomeadamente, Keisuke Kinoshita), será sempre a inevitável mulher narusiana. Mas a câmara de Naruse não permite fantasias nem fetichismos. A sua ética materialista impõe-se e torna palpáveis as suas mulheres, não as santifica de maneira alguma. Freidberg adianta que Naruse – ao contrário de Ozu e as suas preferências “virginais”- seria um dos primeiros cineastas que admite uma sexualidade feminina – representada implicitamente – tão livre quanto à dos homens. Delas, dir-se-ia, só falta ouvir-lhes os batimentos cardíacos.

[editar] Um cineasta definitivo

Quando Mikio Naruse falece em 1969, o cinema japonês perdia o seu último mestre clássico. Ozu, Shimizu e Mizoguchi tinham já desaparecido, Kurosawa abandonava a sua participação com Toshiro Mifune, Heinosuke Gosho filmara o seu último filme em 1968 e Teinosuke Kinugasa em 1966. Os anos 60 tinham já sido marcados por novas estéticas revolucionárias de um nova geração de cineastas comprometidos em alterar a serenidade (ainda que muitas vezes conflituosa) dos velhos mestres.

Eis que o último filme de Naruse, estreado em 1967 com o nome de Midaregumo (Scattered Clouds) fechava uma época. Coincidência ou não, o mais moderno dos cineastas clássicos era o último a despedir-se do plateau. O último plano desse filme - a magistral Yoko Tsukasa a despedir-se do seu amante num horizonte em que o sol se põe – resta como o epitáfio de uma geração na qual Mikio Naruse discretamente, e à revelia de uma fama extraordinária, se destaca como o mais actual, aquele que é necessário ver.


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