Tsuneo Sano

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Nasci no dia 20 de janeiro de 1913, na província de Mie, no Japão. Segundo a contagem tradicional japonesa, neste ano, portanto, em 20 de abril de 2012, completo 100 anos. Sou o segundo filho de Tsuneichi Sano, que desembarcou, com nossa família, no porto de Santos, no dia 17 de julho de 1918, a bordo do vapor Wakasa Maru. A família veio composta por meus pais (Tsuneichi e Chiyo), quatro filhos (Tsuneshi,7; eu, 5; Tsunehiro, 3 e Tamao ,1) e um irmão de meu pai, o tio Yoshimi, 15, este para compor a cota mínima de mãos produtivas por família, pela lei de imigração (idade mínima, 12 anos) daquela época. Nasci no dia 20 de janeiro de 1913, na província de Mie, no Japão. Segundo a contagem tradicional japonesa, neste ano, portanto, em 20 de abril de 2012, completo 100 anos. Sou o segundo filho de Tsuneichi Sano, que desembarcou, com nossa família, no porto de Santos, no dia 17 de julho de 1918, a bordo do vapor Wakasa Maru. A família veio composta por meus pais (Tsuneichi e Chiyo), quatro filhos (Tsuneshi,7; eu, 5; Tsunehiro, 3 e Tamao ,1) e um irmão de meu pai, o tio Yoshimi, 15, este para compor a cota mínima de mãos produtivas por família, pela lei de imigração (idade mínima, 12 anos) daquela época.
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O Japão, exaurido pelas guerras contra China e Rússia, vivia uma crise econômica terrível, naquela época, além de contar com uma superpopulação. O povo passava fome, mas nossa família até que estava bem. Aliás, a província de Mie era uma das poucas que suportava o momento pelo qual passava o país. Por isso é das menos numerosas no Brasil. Mas, seduzido também pela propaganda enganosa dos “frutos de ouro” (café) no Brasil, e pelo que já ouvira falar das experiências japonesas no Havaí, meu pai resolveu vir para cá a fim de melhorar ainda mais a nossa situação. Ou seja, viemos em busca do enriquecimento. O Japão, exaurido pelas guerras contra China e Rússia, vivia uma crise econômica terrível, naquela época, além de contar com uma superpopulação. O povo passava fome, mas nossa família até que estava bem. Aliás, a província de Mie era uma das poucas que suportava o momento pelo qual passava o país. Por isso é das menos numerosas no Brasil. Mas, seduzido também pela propaganda enganosa dos “frutos de ouro” (café) no Brasil, e pelo que já ouvira falar das experiências japonesas no Havaí, meu pai resolveu vir para cá a fim de melhorar ainda mais a nossa situação. Ou seja, viemos em busca do enriquecimento.
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A viagem foi longa. Pouco antes de aportarmos em Santos, nossa irmãzinha, Tamao, bebê, veio a falecer ainda no navio. Como sabiam que os mortos durante a viagem eram jogados ao mar, nossos pais conseguiram esconder o corpinho dela, de modo que conseguimos enterrá-la em terras brasileiras, num local chamado Fazenda Santa Olímpia, perto de Ribeirão Preto. A viagem foi longa. Pouco antes de aportarmos em Santos, nossa irmãzinha, Tamao, bebê, veio a falecer ainda no navio. Como sabiam que os mortos durante a viagem eram jogados ao mar, nossos pais conseguiram esconder o corpinho dela, de modo que conseguimos enterrá-la em terras brasileiras, num local chamado Fazenda Santa Olímpia, perto de Ribeirão Preto.
Foi na Hospedaria dos Imigrantes, em São Paulo, que experimentei, pela primeira vez, bacalhau, mortadela e batatinha, produtos que apreciei muito. Da Hospedaria partimos para a Fazenda Santa Olímpia e depois para a Fazenda dos Ingleses, ambas, próximas a Ribeirão Preto (SP). Nesse local, meu pai contraiu a febre amarela e foi internado na Santa Casa de Ribeirão Preto. Porém, como muitos imigrantes japoneses começaram a migrar para a Fazenda Mané Mato, próximo à cidade de Uchoa, o nosso pai também resolveu ir para lá, apesar de a doença tê-lo debilitado. Ele veio a falecer, mais tarde, nessa fazenda. Foi na Hospedaria dos Imigrantes, em São Paulo, que experimentei, pela primeira vez, bacalhau, mortadela e batatinha, produtos que apreciei muito. Da Hospedaria partimos para a Fazenda Santa Olímpia e depois para a Fazenda dos Ingleses, ambas, próximas a Ribeirão Preto (SP). Nesse local, meu pai contraiu a febre amarela e foi internado na Santa Casa de Ribeirão Preto. Porém, como muitos imigrantes japoneses começaram a migrar para a Fazenda Mané Mato, próximo à cidade de Uchoa, o nosso pai também resolveu ir para lá, apesar de a doença tê-lo debilitado. Ele veio a falecer, mais tarde, nessa fazenda.
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Nela, trabalhamos em sistema de parceria, com as famílias Koga e Okuma, por aproximadamente 1 ano. Na época eu já tinha 9 anos de idade. Com papai falecido, partimos para a Fazenda Córrego D’Anta, na região de São José do Rio Preto (SP), onde trabalharíamos, em sistema de arrendamento, por 6 anos. Mas permanecemos apenas 3, porque a renda prevista não condizia com as condições da terra. Com as economias que juntamos por todos esses anos de privações, ainda conseguimos comprar 14 alqueires de uma área próxima à Fazenda Córrego D’Anta, para o plantio de café. Mas, devido ao meu porte físico, pequeno e de frágil saúde para enfrentar as pesadas tarefas agrícolas, tio Yoshimi resolveu me levar para a cidade Onda Verde. Abrirmos um improvisado boteco, onde também residiríamos precariamente. Após 4 anos de intensa dedicação, nos saindo muito bem, resolvemos trazer os demais familiares para a cidade. Apenas Tsunehiro, 3° filho, ficaria na lavoura, cuidando de 2 alqueires, por precaução. Depois, com a venda de nossas terras, compramos um lote e construímos a primeira casa de secos e molhados da cidade, tendo ao fundo nossa residência, para abrigar toda a família. Nela, trabalhamos em sistema de parceria, com as famílias Koga e Okuma, por aproximadamente 1 ano. Na época eu já tinha 9 anos de idade. Com papai falecido, partimos para a Fazenda Córrego D’Anta, na região de São José do Rio Preto (SP), onde trabalharíamos, em sistema de arrendamento, por 6 anos. Mas permanecemos apenas 3, porque a renda prevista não condizia com as condições da terra. Com as economias que juntamos por todos esses anos de privações, ainda conseguimos comprar 14 alqueires de uma área próxima à Fazenda Córrego D’Anta, para o plantio de café. Mas, devido ao meu porte físico, pequeno e de frágil saúde para enfrentar as pesadas tarefas agrícolas, tio Yoshimi resolveu me levar para a cidade Onda Verde. Abrirmos um improvisado boteco, onde também residiríamos precariamente. Após 4 anos de intensa dedicação, nos saindo muito bem, resolvemos trazer os demais familiares para a cidade. Apenas Tsunehiro, 3° filho, ficaria na lavoura, cuidando de 2 alqueires, por precaução. Depois, com a venda de nossas terras, compramos um lote e construímos a primeira casa de secos e molhados da cidade, tendo ao fundo nossa residência, para abrigar toda a família.
Com a prosperidade vieram os casamentos, sendo que o Tio Yoshimi foi o 1° a se casar. A seguir foi Tsuneshi, filho mais velho. Apesar de casados, todos continuaram a morar na mesma casa. O 3° foi Tsunehiro, mas continuou morando no sítio. Nesse ínterim, o Tio Yoshimi resolveu partir para a cidade de Novo Horizonte para tentar novo empreendimento com a sua nova família. Daí, com 27 anos, comecei a me preocupar também com a busca por minha própria esposa. Foi quando o meu tio, agora morando na cidade de Barretos, trouxe-me a notícia da existência de uma linda e jovem japonesa naquela cidade, cuja família também procurava por um pretendente. Assim, fui a Barretos a fim de conhecê-la. E lá confirmei: “era linda mesmo a jovem Hanami!” A partir daí, o casamento começou a ser planejado. Minha próxima viagem para lá foi apenas para sacramentar o pedido. Casei-me e também continuei morando com minha mãe e o meu irmão Tsuneshi por aproximadamente 1 ano. Com o casamento de Tsunekissa, o 4° filho, eu resolvi abrir um bazar no mesmo quarteirão do estabelecimento da família. Com a prosperidade vieram os casamentos, sendo que o Tio Yoshimi foi o 1° a se casar. A seguir foi Tsuneshi, filho mais velho. Apesar de casados, todos continuaram a morar na mesma casa. O 3° foi Tsunehiro, mas continuou morando no sítio. Nesse ínterim, o Tio Yoshimi resolveu partir para a cidade de Novo Horizonte para tentar novo empreendimento com a sua nova família. Daí, com 27 anos, comecei a me preocupar também com a busca por minha própria esposa. Foi quando o meu tio, agora morando na cidade de Barretos, trouxe-me a notícia da existência de uma linda e jovem japonesa naquela cidade, cuja família também procurava por um pretendente. Assim, fui a Barretos a fim de conhecê-la. E lá confirmei: “era linda mesmo a jovem Hanami!” A partir daí, o casamento começou a ser planejado. Minha próxima viagem para lá foi apenas para sacramentar o pedido. Casei-me e também continuei morando com minha mãe e o meu irmão Tsuneshi por aproximadamente 1 ano. Com o casamento de Tsunekissa, o 4° filho, eu resolvi abrir um bazar no mesmo quarteirão do estabelecimento da família.
Com imensa ajuda de minha esposa, Hanami, mulher delicada mas de muita fibra e força, que além dos afazeres da casa também cuidava do Bazar, comecei a me aventurar pela região como camelô, para aumentarmos a renda da família. Foi assim que conheci Vila Pereira e onde vi a possibilidade de prosperar lá. Voltando para casa, resolvemos, todos, migrarmos para a futura Fernandópolis. Em minha família, nessa época, já contávamos com quatro filhos: Arnaldo Tsunemi, Roberto Hideo, Nestor Junhiti e Reinaldo Tsunetoshi. Com imensa ajuda de minha esposa, Hanami, mulher delicada mas de muita fibra e força, que além dos afazeres da casa também cuidava do Bazar, comecei a me aventurar pela região como camelô, para aumentarmos a renda da família. Foi assim que conheci Vila Pereira e onde vi a possibilidade de prosperar lá. Voltando para casa, resolvemos, todos, migrarmos para a futura Fernandópolis. Em minha família, nessa época, já contávamos com quatro filhos: Arnaldo Tsunemi, Roberto Hideo, Nestor Junhiti e Reinaldo Tsunetoshi.

Revisão de 21:53, 17 Abril 2012

Tsuneo Sano.
Tsuneo Sano.

Nasci no dia 20 de janeiro de 1913, na província de Mie, no Japão. Segundo a contagem tradicional japonesa, neste ano, portanto, em 20 de abril de 2012, completo 100 anos. Sou o segundo filho de Tsuneichi Sano, que desembarcou, com nossa família, no porto de Santos, no dia 17 de julho de 1918, a bordo do vapor Wakasa Maru. A família veio composta por meus pais (Tsuneichi e Chiyo), quatro filhos (Tsuneshi,7; eu, 5; Tsunehiro, 3 e Tamao ,1) e um irmão de meu pai, o tio Yoshimi, 15, este para compor a cota mínima de mãos produtivas por família, pela lei de imigração (idade mínima, 12 anos) daquela época.

O Japão, exaurido pelas guerras contra China e Rússia, vivia uma crise econômica terrível, naquela época, além de contar com uma superpopulação. O povo passava fome, mas nossa família até que estava bem. Aliás, a província de Mie era uma das poucas que suportava o momento pelo qual passava o país. Por isso é das menos numerosas no Brasil. Mas, seduzido também pela propaganda enganosa dos “frutos de ouro” (café) no Brasil, e pelo que já ouvira falar das experiências japonesas no Havaí, meu pai resolveu vir para cá a fim de melhorar ainda mais a nossa situação. Ou seja, viemos em busca do enriquecimento.

A viagem foi longa. Pouco antes de aportarmos em Santos, nossa irmãzinha, Tamao, bebê, veio a falecer ainda no navio. Como sabiam que os mortos durante a viagem eram jogados ao mar, nossos pais conseguiram esconder o corpinho dela, de modo que conseguimos enterrá-la em terras brasileiras, num local chamado Fazenda Santa Olímpia, perto de Ribeirão Preto. Foi na Hospedaria dos Imigrantes, em São Paulo, que experimentei, pela primeira vez, bacalhau, mortadela e batatinha, produtos que apreciei muito. Da Hospedaria partimos para a Fazenda Santa Olímpia e depois para a Fazenda dos Ingleses, ambas, próximas a Ribeirão Preto (SP). Nesse local, meu pai contraiu a febre amarela e foi internado na Santa Casa de Ribeirão Preto. Porém, como muitos imigrantes japoneses começaram a migrar para a Fazenda Mané Mato, próximo à cidade de Uchoa, o nosso pai também resolveu ir para lá, apesar de a doença tê-lo debilitado. Ele veio a falecer, mais tarde, nessa fazenda.

Nela, trabalhamos em sistema de parceria, com as famílias Koga e Okuma, por aproximadamente 1 ano. Na época eu já tinha 9 anos de idade. Com papai falecido, partimos para a Fazenda Córrego D’Anta, na região de São José do Rio Preto (SP), onde trabalharíamos, em sistema de arrendamento, por 6 anos. Mas permanecemos apenas 3, porque a renda prevista não condizia com as condições da terra. Com as economias que juntamos por todos esses anos de privações, ainda conseguimos comprar 14 alqueires de uma área próxima à Fazenda Córrego D’Anta, para o plantio de café. Mas, devido ao meu porte físico, pequeno e de frágil saúde para enfrentar as pesadas tarefas agrícolas, tio Yoshimi resolveu me levar para a cidade Onda Verde. Abrirmos um improvisado boteco, onde também residiríamos precariamente. Após 4 anos de intensa dedicação, nos saindo muito bem, resolvemos trazer os demais familiares para a cidade. Apenas Tsunehiro, 3° filho, ficaria na lavoura, cuidando de 2 alqueires, por precaução. Depois, com a venda de nossas terras, compramos um lote e construímos a primeira casa de secos e molhados da cidade, tendo ao fundo nossa residência, para abrigar toda a família. Com a prosperidade vieram os casamentos, sendo que o Tio Yoshimi foi o 1° a se casar. A seguir foi Tsuneshi, filho mais velho. Apesar de casados, todos continuaram a morar na mesma casa. O 3° foi Tsunehiro, mas continuou morando no sítio. Nesse ínterim, o Tio Yoshimi resolveu partir para a cidade de Novo Horizonte para tentar novo empreendimento com a sua nova família. Daí, com 27 anos, comecei a me preocupar também com a busca por minha própria esposa. Foi quando o meu tio, agora morando na cidade de Barretos, trouxe-me a notícia da existência de uma linda e jovem japonesa naquela cidade, cuja família também procurava por um pretendente. Assim, fui a Barretos a fim de conhecê-la. E lá confirmei: “era linda mesmo a jovem Hanami!” A partir daí, o casamento começou a ser planejado. Minha próxima viagem para lá foi apenas para sacramentar o pedido. Casei-me e também continuei morando com minha mãe e o meu irmão Tsuneshi por aproximadamente 1 ano. Com o casamento de Tsunekissa, o 4° filho, eu resolvi abrir um bazar no mesmo quarteirão do estabelecimento da família. Com imensa ajuda de minha esposa, Hanami, mulher delicada mas de muita fibra e força, que além dos afazeres da casa também cuidava do Bazar, comecei a me aventurar pela região como camelô, para aumentarmos a renda da família. Foi assim que conheci Vila Pereira e onde vi a possibilidade de prosperar lá. Voltando para casa, resolvemos, todos, migrarmos para a futura Fernandópolis. Em minha família, nessa época, já contávamos com quatro filhos: Arnaldo Tsunemi, Roberto Hideo, Nestor Junhiti e Reinaldo Tsunetoshi.

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