Japão: de suas origens à restauração Meiji (parte III)

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6.4.3 – Os Fujiwara, a corte vil:

A ascensão dos Fujiwara está intimamente ligada à ascensão da família Imperial. Com já disse anteriormente, a família Fujiwara antes se chamava Nakatomi, mas depois que o Príncipe Naka no Oe deu o golpe de estado, ajudado pela família Nakatomi, esta mudou seu nome para Fujiwara (campo de glicínias), em homenagem ao lugar onde foi idealizado o golpe. Os Fujiwara se tornaram rapidamente a principal família do Japão, ultrapassando até mesmo a família Imperial. Isto porque, graças ao fato de o Japão não ter adotado o costume chinês de nomear para os cargos importantes quem se destacasse por suas qualidades, os Fujiwara sempre ocupavam tais cargos. Mas, além do fato de o clã Fujiwara ocupar os principais cargos administrativos do Império, a maior razão pela qual ele adquiriu preponderância foi a de conseguir se ligar sempre à família Imperial, pois a maioria das esposas dos imperadores, e consequentemente as mães dos futuros Imperadores, pertenciam ao clã.

Desde cedo, os Fujiwara conseguiram adquirir muitas terras, se tornando um dos principais proprietários do Japão. Com isso, formaram uma extensa base de guerreiros e de apoio político para, a partir de 858, iniciar seu domínio de fato no país. O controle que os Fujiwara exerciam sobre o Imperador se intensificou a partir desta data, pois puseram ainda mais em prática a política que já vinham desenvolvendo desde sua ascensão, ou seja, a política de Regências, que explicaremos agora.

Quando um imperador menor de idade assumia o trono, era nomeado para ele um Regente (sessho). Assim que o imperador alcançava a idade adulta, o sessho era dispensado e o monarca começava a governar de fato. Em 858, os Fujiwara colocaram em prática um costume muito antigo, que desde o Príncipe Shotoku não era utilizado: o kampaku, ou Regente de Imperador adulto. Através dos cargos de sessho e kampaku, a família Fujiwara passou a governar em nome dos Imperadores, baseando-se no fato de serem parentes da mãe do Imperador para que fossem escolhidos como Regentes. Houve, no entanto, alguns imperadores que, por não serem filhos de mães Fujiwara, não aceitaram a Regência. Mesmo assim, sua pressão nem sempre colhia bons resultados. Afinal, esses governantes eram geralmente casados com esposas Fujiwara e forçados a renunciar para que os Fujiwara se tornassem Regentes de seus filhos ainda menores de idade. Para fugir do domínio Fujiwara, três imperadores que não eram filhos de mães Fujiwara e nem aceitaram a renúncia tentaram nomear para os cargos importantes membros de outras família. A medida não deu certo, pois a família mandante assumiu o controle sobre aqueles e depuseram os discordantes.

Os Fujiwara assumiram tanto poder no Japão que Fujiwara no Michinaga, um grande líder do clã, controlou os imperadores que reinaram durante sua vida sem precisar sequer adotar os títulos de sessho ou kampaku. A vida de Michinaga marca tanto o ápice do poder Fujiwara, quanto o declínio definitivo do poder Imperial no período Heian. Após a morte de Michinaga, em 1028, não houve um outro Fujiwara com tanto poder para dar continuidade às façanhas dele, e o poder do clã começou a declinar. Aliado a isto, estava a ação de grupos de bushidan (guerreiros) que atacavam e dominavam as terras dos aristocratas e dos mosteiros. Os administradores das terras eram impotentes contra os verdadeiros exércitos ilegais, formados por clãs de guerreiros que por, não possuírem outra maneira de obter grandes propriedades, lutavam para toma-las à força.

A política Fujiwara de casar as mulheres da família com os imperadores começou a não mais funcionar. Muitos governantes continuavam a renunciar devido às pressões, mas, como não eram casados com mulheres Fujiwara, assumiam eles próprios a Regência do filho. Esta era uma maneira de governar sem ser atrapalhado pela família dominante. Tal sistema de governo criado pelos imperadores se tornou decisivo para a nivelação da Casa Imperial aos Fujiwara. Afinal, além de sacá-los do poder, o imperador que renunciava concedia a si próprio, como Regente do filho, muitas terras. Assim, a família Imperial vinha gradualmente a possuir mais terras do que o clã Fujiwara.


6.4.4 – Os Guerreiros e o caos do fim da Antigüidade:

À medida que os séculos passavam, a descentralização política se tornava maior. Entretanto, o principal ponto de força desse processo foi o fato de que quando os domínios Imperiais se expandiram para o norte de Honshu, o alistamento das pessoas naturais das regiões recém conquistadas não se mostrou eficiente para garantir o controle imperial sobre a região. Sendo assim, já a partir de 792 a defesa das novas províncias tinha sido entregue a particulares com a obrigação de formarem suas milícias e garantirem a paz nas regiões. No entanto, um fato importante que não agradava aos nobres era a idéia de abandonarem a capital e as grandes cidades para residir em províncias distantes. Para evitar isso, eles nomeavam administradores ou delegados para cuidarem de suas terras e, com isso, protegerem a região com o serviço de seus familiares ou de mercenários.

Esta situação contribuiu para a formação de clãs altamente militarizados nas províncias mais distantes da capital. Esses grupos eram controlados pelos delegados dos nobres ou pelo próprio governador da província, que via no saque aos habitantes locais uma excelente forma de fazer fortuna rapidamente. Além dessas pessoas, havia também os nobres, que se estabeleciam na região tornando-se chefes de clãs militares, muitas vezes mudando até o nome de sua família para diferenciarem-se de seus antigos clãs. De início, esta situação fortaleceu em muito as famílias nobres e também os templos, que eram os maiores detentores de terras. Eles, com seus guerreiros, impunham sua vontade sobre as decisões da corte. Não foram poucos os saques e incêndios que ocorreram em Heian como forma de represália dos nobres e templos por não terem seus desejos atendidos. Estas classes utilizaram-se de seus guerreiros para enriquecer muito, desviando tributos e mercadorias imperiais para proveito próprio.

Os guerreiro (bushi ou bushidan) viviam no campo como trabalhadores, e eram encorajados por seus patrões a cultivarem suas tradições militares. Participavam das batalhas sob a liderança dos patrões, em troca de alguma coisa. A principal relação entre o patrão e seus guerreiros era a do hoko (serviço) pelo goon (favor). Ao mesmo tempo que existiam os guerreiros leais aos seus patrões, existiam também aqueles que uniam seu clã (as pessoas pobres também se dividiam em clãs, que eram as famílias (primos, cunhados etc.)) e se voltavam contra as ordens de seus senhores, em busca de enriquecimento e obtenção de propriedades. Com o passar do tempo, o número desses clãs guerreiros se tornou cada vez maior e poderoso.

A primeira região do Japão a ser dominada por um clã guerreiro foi o Kanto, mas posteriormente mais regiões passaram a ser dominadas por essas organizações. A corte Imperial nunca se importou muito com as movimentações dos clãs guerreiros, pois eles freqüentemente se degladiavam entre si buscando dominar um ao outro para assim engrossarem suas fileiras. Entretanto, por volta do século XII, grandes grupos de guerreiros liderados por chefes carismáticos provaram serem capazes de dominar muitas regiões do Japão, e o poder imperial se viu impotente para resolver tal situação. Afinal, sua única alternativa para eliminar um clã seria recorrer ao seu rival, pois o exército nacional japonês agora já não era muito maior do que os guerreiros controlados pela família Imperial. Por essa época, os maiores detentores de guerreiros eram os clãs de Minamoto (o Genji) e Taira (ou Heike) e a família Fujiwara. Grandes clãs guerreiros, como os próprios Minamoto e os Taira se diziam descendentes de algum Imperador. Por exemplo, os primeiros afirmavam ser descendentes de Seiwa, enquanto que os Taira seriam descendentes de Kammu, o fundador de Heian.

A família Imperial já fazia uso do clã Minamoto como uma espécie de exército nacional desde o século X. No século seguinte, suas missões foram realmente indispensáveis para a manutenção da unidade imperial, pois os Minamoto, sob a liderança de Minamoto no Yoriyoshi, venceram sucessivamente a Guerra dos Nove anos e a Guerra dos Três anos contra os clãs guerreiros dos Abe e dos Kiyohara, pacificando as províncias do norte. No entanto, as façanhas militares dos Minamoto, no século XI, proporcionaram a eles não só um aumento considerável em seus contingentes, com a incorporação ao clã dos guerreiros de outras regiões que ajudaram nas campanhas, como também uma forte aliança entre estes e os Fujiwara. Yoriyoshi era um líder que sabia como conquistar a lealdade de seus guerreiros, não só por suas habilidades bélicas mas principalmente pela preocupação com seus homens.

No século XII, o clã Taira foi chamado pelo Imperador para intervir em assuntos da corte. Taira no Kiyomori, líder do clã, entrou na política Imperial em 1118, e isso deixou irados os clãs Fujiwara e seus aliados Minamoto, pois ambos se sentiram agredidos pela intromissão do líder de um clã rival no seu meio de influência. Entretanto, os Imperadores adotaram uma política de neutralização dos ânimos dos clãs, jogando um contra o outro e apoiando ora um, ora outro. Mas, em 1156, um Imperador que abdicara do trono resolveu reclamá-lo novamente. Os clãs se dividiram no apoio a cada um dos pretendentes, e até havia membros da família Fujiwara apoiando tanto um quanto o outro. Os Minamoto também se dividiram, enquanto que os Taira permaneceram neutros na disputa.

Aproveitando as oportunidades, Taira no Kiyomori derrotou todos os seus rivais nas batalhas de Hogen, em 1156, e Heiji, em 1159. Ele matou todas as principais lideranças do clãs Minamoto e reservou para seu clã as principais lideranças japonesas.


Talvez o único erro de Kiyomori tenha sido o de não acabar de vez com os Minamoto e os Fujiwara, nem tampouco matar os dois pretendentes ao trono. Ao contrário, ele lhes permitiu desempenhar papéis de pouca importância dentro da corte e procurou gerar um Imperador com seu sangue, casando sua filha com um dos pretendentes ao trono. Enquanto Kiyomori dava as cartas, os Taira adquiriram propriedades por todo o Japão, tornando seu clã o mais poderoso do país. Entretanto, o clã aos poucos foi abandonando sua tradição militar e se radicando na cidade Heian, onde não era visto com bons olhos pelos antigos aristocratas da família Fujiwara. Já os Minamoto se retiraram para as províncias orientais, que eram as bases de suas forças, e se reuniram sob a liderança dos jovens Yoritomo, seu irmão Yoshitsune e seu primo Yoshinaka.

Na década de 1170, finalmente nasceu o Príncipe Antoku, neto de Taira no Kiyomori. Com o nascimento, dentro de pouco tempo a dinastia imperial japonesa seria a do clã Taira. No entanto, em 1180, Minamoto no Yoritomo, novo líder do clã, acreditou que seu grupo já estava forte o suficiente para realizar uma investida definitiva contra os Taira. Assim, Yoshitsune e Yoshinaka conduziram as campanhas que resultam na vitória da batalha de Ichino-tani, em 1184, que obrigou os Taira a abandonar Heian, e na vitória decisiva na batalha marítima de Dan-no-ura, em 1185, quando Kiyomori e seu neto, ainda uma criança, encontram a morte nas águas do Mar Interior. Os demais chefes Taira também foram mortos ou se suicidaram para evitarem a captura. O restante do clã Taira foi literalmente passado a fio de espada.

Depois de consolidada sua vitória, Yoritomo estabeleceu, em 1192, na cidade de Kamakura, um novo sistema de governo: o Shogunato, que era uma governo militar. O governo Imperial permaneceu na cidade de Heian, porém sem poderes. Foi o fim daquilo que é conhecido como o Japão Antigo.

Katana: a espada típica do Japão. Elas podiam ser retas ou curvas, além de terem três tamanhos diferentes

6.5 – O Período Kamakura:

Após a vitória do clã Minamoto sobre seus rivais Taira, nas batalhas que ficaram conhecidas como Guerras Gempei, Minamoto no Yoritomo, que não participara das batalhas com seus irmãos, ficando no leste do país para organizar suas ações futuras, estabeleceu na cidade de Kamakura um novo sistema de governo batizado de Shogunato, ou Bakufu, ou seja, um sistema de governo totalitário e militarizado. O Shogunato não suprimia a existência do Império, pois não se atribuía nenhuma origem divina. Entretanto, a existência desta nova instituição fez do Império apenas uma entidade figurativa.


6.5.1 – O Shogunato, o Império e os Samurais:

A cidade de Kamakura se localizava numa região muito distante do centro da política imperial japonesa da Antigüidade. Justamente nessas regiões afastadas, como já expliquei, os líderes e clãs guerreiros começaram a ganhar força à medida que a autoridade Imperial demonstrava sinais de fraqueza. Na realidade, talvez um sistema hereditário de poder seja o responsável por tal perda, pois quando uma família se torna a única responsável pelo governo de um país, com o tempo as conspirações e a corrupção (devido ao favorecimento aos amigos e à exclusão dos inimigos) se tornam tamanhos que o sistema fica insustentável. Já num sistema político onde os governantes mudam (inclusive a família dominante), o povo pode ter mais esperança de que, quando o atual governante sair do poder, o sucessor desenvolver uma política inovadora e a situação melhorar. Num sistema Imperial esta hipótese é praticamente inexistente, e com isso as revoltas são mais freqüentes.

O Shogunato era um governo inicialmente semelhante àquilo que foi a Ditadura Militar Brasileira, ou seja, um governo de um general, o Shogun, apoiado por seu exército de bushidan, também ditos samurais (a partir de agora só farei referência aos guerreiros pela palavra samurai). A princípio, este governo pretendia reconstruir o Estado nacional Japonês a partir de uma política extremamente repressora e violenta, mas com uma hierarquia interna muito bem organizada, coisa que jamais acontecera antes. Entretanto, como veremos, com o passar do tempo tal política dividiu ainda mais o já debilitado Japão e favoreceu a real consolidação do "feudalismo" no país.


6.5.2 – Os Hojo e a queda dos Minamoto:

Na realidade, os Minamoto foram muito importantes para a História do Japão não tanto por seus atos de governo, mas por terem implantado no país a nova forma de governo que perduraria até a metade do século XIX. No entanto, o período de poder efetivo do clã sobre o Shogunato foi muito curto.

Em 1185, os Taira foram derrubados, e a isso seguiu-se um período de sete anos de indefinições enquanto os Minamoto terminavam de organizar sua base de poder em Kamakura. O Shogunato só foi implantado de fato em 1192, com o Shogun sendo Minamoto no Yoritomo. Este hábil governante viveu, porém, apenas até 1199, sendo sucedido por seu filho mais velho, que viveu poucos anos e permitiu, em seu governo, a preponderância do clã Hojo, que fora de suma importância durante as Guerras Gempei. Quando o filho de Yoritomo morreu, por volta de 1205, seu irmão assumiu o Shogunato, mas também não viveu muito, tendo morrido em circunstâncias ainda obscuras. Quando esse Shogun morreu, seu filho e único herdeiro era apenas uma criança, assumindo o título de governante sob a Regência, do clã Hojo. Não é preciso dizer que a circunstância desenvolvida no final do Império, ou seja, de os Imperadores terem Regentes mesmo enquanto adultos, se repetiu com os descendentes do clã Minamoto até que, em meados do século XIII, finalmente os Hojo depuseram formalmente os Minamoto e usurparam para si o título de Shogun.


6.5.3 – Os Mongóis e os Kamikazes:

No final do século XII, os Mongóis emergiram do estágio de povos nômades e considerados bárbaros pelos chineses para se tornarem um dos maiores Impérios que o mundo já conheceu. Tal ascensão ocorreu sob a liderança de Gêngis Khan. Em pouco tempo, os Mongóis dominaram a China e boa parte das estepes da Ásia, além de controlarem muitos reinos Turcos, dos quais extraíram sua organização Imperial. Após a morte de Gêngis Khan, a expansão Imperial não parou e chegou até mesmo a entrar em contato com o leste Europeu.

O neto de Gêngis Khan foi Kublai Khan (aquele a quem Marco Pólo visitou em Pequim, de onde trouxe o macarrão), que terminou a conquista da China e não intentava parar sua expansão por ali. O fato é que, em 1268, Kublai Khan enviou uma missão diplomática a Kamakura. A missão estava longe de ser amigável, pois trazia os termos do Imperador Mongol para não declarar guerra ao Japão. Os termos eram os seguintes: o Shogun, juntamente com o Imperador, deveriam renunciar ao governo e se renderem pacificamente aos Mongóis, com a recompensa de que o Shogun seria agraciado com o título de governador do Japão e o Imperador pura e simplesmente afastado. Os Hojo recusaram-se a cumprir os termos dos Mongóis, começando a se preparar para a invasão que certamente ocorreria tão logo Kublai Khan conseguisse reunir forças suficientes.

Desenho de um típico besteiro chinês. Eles portavam as bestas conhecidas como Chu Ko Nu Em novembro de 1274, 900 navios e mais de 44 mil homens (entre Mongóis, Chineses, Coreanos e Tártaros) aportaram na baía da Hakada, em Kyushu, após já terem conquistado as ilhas Tsushima, pertencentes ao Japão. A luta foi encarniçada, mas os Mongóis, em absoluta maioria, finalmente venceram. Os japoneses que sobreviveram bateram em retirada, deixando a baía sob o controle Mongol. Os invasores foram então dormir em seus navios, para no dia seguinte continuarem a campanha de conquista do arquipélago. No entanto, durante a noite, algo estranho aconteceu: um vendaval fortíssimo pôs a pique toda a esquadra, destruindo desta forma também o exército invasor. Os ventos, ditos sagrados e denominados Kamikazes, foram tidos como obra dos sacerdotes Xintoístas e Budistas, que estavam desde 1268 orando pela proteção do Japão.


Entretanto, os japoneses sabiam que Kublai Khan não se deixaria abater por uma catástrofe, pois seus exércitos não foram derrotados em batalha. Por isso, o Shogun começou a providenciar a construção de uma poderosa esquadra de guerra a fim de enfrentar os invasores ainda nos mares. Toda a região ao redor da baía de Hakada foi fortificada, pois se imaginava que um novo ataque começaria por lá também.

Entre 1275-79, Kublai Khan fez novas tentativas de persuadir o Shogun com propostas diplomáticas de rendição. Entretanto, os generais nipônicos se recusavam a receber os enviados do Imperador Mongol. Sendo assim, os Mongóis se prepararam para um último e derradeiro ataque ao Japão. Formaram um esquadra cinco vezes maior que a primeira (4400 navios) e enviaram mais de 140 mil homens para o arquipélago. Porém, os invasores cometeram um erro: de forma previsível, atacaram novamente a baía de Hakada, onde foram recebidos pela esquadra nipônica (que estava em número muito inferior). Além disso, como os Mongóis haviam dividido suas forças (uma parte saíra da Coréia e a outra da China), eles não estavam com a totalidade de sua esquadra quando se defrontaram com os japoneses. De fato, participava da batalha apenas a armada que deixara a Coréia. Mesmo em minoria, os japoneses conseguiram vencer, mas ficaram debilitados para resistir ao ataque da força vinda da China, que aportou na baía de Hakada cerca de vinte dias depois da primeira batalha. Os Kamikazes novamente agiram: um grande vendaval destruiu toda a esquadra Mongol e pôs fim à segunda investida de Kublai Khan. O Imperador ainda começou a organizar uma terceira investida, mas, como veio a falecer em 1294, não teve tempo de colocá-la em prática.

O fato de por duas vezes os vendavais terem protegido o Japão de invasões estrangeiras criou o mito de que o país seria uma terra protegida pelos deuses (shinkoku), e foi justamente exaltando a memória dos acontecimentos fantásticos das duas invasões Mongóis que os japoneses desenvolveram na Segunda Guerra a tática suicida de jogar o avião sobre embarcações para afundá-las. Os homens que praticavam essa tática também se chamavam Kamikazes.


Mapa mostrando as diferentes frentes de luta com os mongóis



6.6 – O Período Muromachi:

Os Hojo conseguiram manter o Japão unido sob sua opressão, controlando a família Imperial de tal forma que determinavam a sucessão do trono e estabelecendo uma sólida base militar graças ao confisco de terras. Porém, nem tudo ia bem com o Shogunato. Afinal, a criação da esquadra e a construção das fortificações na baía de Hakada exauriram as finanças Shogunais, possibilitando que a família Imperial atingisse um status mais elevado no sentido financeiro. Em 1320, o Imperador Go-Daigo, se aliou ao clã Ashikaga, liderado por Ashikaga Takauji, e declarou guerra ao Shogunato. Em 1333, Go-Daigo derrubou os Hojo, pondo fim ao Shogunato, e restabeleceu o poder Imperial absoluto. O imperador, porém, cometeu um erro crasso ao partilhar o poder: se esqueceu de seu poderoso aliado Ashikaga Takauji. O clã Ashikaga não perdoou o "esquecimento", e em 1336 afastou o governante do trono. Ashikaga Takauji se proclamou Shogun e nomeou um Imperador fantoche para a corte de Heian.

No entanto, Go-Daigo fugira e se refugiou em Yoshino (próximo a Nara), mantendo o título de Imperador e, sob a proteção de seus soldados, agindo como tal. Esse fato provocou um cisma na política centralizadora japonesa, pois o centro e norte do país eram governados pelo Shogun, apoiado pelo Imperador fantoche, enquanto o sul do país era governado por Go-Daigo. Esta cisma caracterizou uma época de intensa luta armada, na qual os samurais assumiram suma importância na resolução dos assuntos nacionais. Tal importância concedeu aos senhores regionais mais poder do que eles já vinham obtendo desde o final da Antigüidade. O Japão só deixou de ter dois Imperadores em 1392, quando Go-Daigo morreu e seus filhos não obtiveram apoio suficiente para dar continuidade ao Império do Sul.


Representação de um samurai Os Ashikaga não eram grandes detentores de terras e, portanto, precisavam confiar em seus aliados e vassalos para terem samurais (samurai quer dizer: "aquele que pega em armas pelo seu senhor") à disposição, o que fortaleceu muito os senhores regionais a ponto de, quando Ashikaga Yoshimitsu (o que destruiu o poder dos descendentes de Go-Daigo) morreu, seus sucessores não conseguiram administrar bem as pressões desses senhores regionais. Estes se fortaleceram politicamente, levando Ashikaga Yoshimasa a abandonar todas as funções de Shogun e conservando somente o título. A descentralização passou a imperar no Japão. Por essa época, os títulos de Imperador e Shogun haviam praticamente se igualado, ambos sem poderes. A única lei era realmente a do mais forte, ou seja, aquele que detivesse mais terras, mais samurais e mais vassalos. Neste Japão sem leis, os senhores mais poderosos começaram a ampliar muito suas propriedades, até chegarem a dominar pequenos estados, que de fato eram seus "feudos". Esses senhores regionais tão poderosos passaram a ser chamados de daimyos, e eram quem de fato mandavam no Japão, embora cada senhor mandasse apenas em seu "feudo".


No início do século XVI, contavam-se no Japão cerca de 250 desses "feudos", propriedades que, além de muito extensas, constantemente alteradas, por guerras entre os diversos daimyos. Muitas delas deixavam de serem grandes para não mais existirem em poucos anos.

Se compararmos este período da História Japonesa com a História Européia, podemos concluir que, sem muitas diferenças, ele corresponde à Idade Média Central, ou seja, quando na Europa pós Carlos Magno, não havendo quase nenhuma centralização de poder.


6.6.1 – A "descoberta" do Japão:

Em 1542 (as fontes consultadas são controversas entre 1540, 1542 e até 1549, sendo esta última data totalmente descartada com base em outras fontes, como veremos), aportaram no Japão navios portugueses. Obviamente, a expedição fazia parte do processo colonizador do qual Portugal e Espanha foram pioneiros no mundo. Os navios traziam seda chinesa, produtos europeus mas, sobretudo, armas de fogo. Os Portugueses foram recebidos e acolhidos amigavelmente pelo daimyo que os recebeu e sua movimentação causou grande frenesi na população e nos mais poderosos senhores regionais. Sendo assim, os japoneses adotaram uma política de acolhimento aos estrangeiros, mas os impediram de interferirem nos assuntos governamentais da nação que se encontrava esfacelada politicamente.


Aos Portugueses se seguiram os Espanhóis, e com eles, além dos produtos que os primeiros já haviam trazido para o arquipélago, vieram também, em 1549, os primeiros jesuítas, tais como o padre Francisco Xavier. Os religiosos intentavam iniciar no Japão o mesmo processo que estavam realizando na América, ou seja, a destruição das religiões locais e a catequese maciça da população à fé Cristã. Os Espanhóis eram conquistadores muito mais experientes do que os Portugueses, pois já tinham tido contato com dois grandes Impérios Americanos (Incas e Astecas), coisa que lhes obrigou a organizarem estratagemas militares inteligentíssimos para operarem a conquista de tais povos. No entanto, no Japão as circunstâncias se apresentaram de uma forma diferente aos Espanhóis por diferentes motivos.

Em primeiro lugar, há que se ressaltar que os povos orientais já eram velhos conhecidos dos Europeus, pois pelo menos desde o Império Romano haviam rotas comerciais entre Europa e China, tais como a estrada da seda.

Os altares móveis eram muito comuns no Japão daquela época. Tais altares eram feitos no próprio país, para suprirem a demanda que as importações não supriam

Sendo assim, os "descobridores" já chegaram ao Japão com uma imagem diferente daquela que tinham dos povos Americanos.

Outro fator importante para o fato de os Espanhóis não terem resolvido empreender uma conquista do Japão foi o fato de os Portugueses terem chegado antes ao arquipélago, e devido a sua mentalidade de trato com os países da Ásia, terem estabelecido feitorias de troca com os povos nativos, fornecendo a eles artefatos europeus, principalmente armas de fogo, o que dificultaria a campanha.

Além desses dois fatores, o que impediu a tentativa espanhola de conquista do Japão foram a chegada de outras potências Européias (tais como Inglaterra e Holanda) à região, e o importante fato do Japão já ter certa experiência tanto em contatos com o exterior quanto a rechaçar ataques marítimos, assim como havia feito por duas vezes com os Mongóis. No entanto, é muito provável que o principal impedimento à conquista Espanhola tenha sido a escassez de minas de ouro e prata no Japão, uma vez que naquela época a principal motivação econômica das potências para realizarem suas expansões era a acumulação de metais preciosos, e para isso, nada melhor do que encontrar uma grande mina, tal como a de Potosí, na atual Bolívia.

Além de colocar o Japão em contato com novas tecnologias e novas correntes de pensamento, a chegada das potências européias ao arquipélago impulsionou o comércio marítimo nipônico, mas, como veremos no próximo item, isto só foi possível devido a uma outra conseqüência da chegada dos europeus, ou seja, o sentimento de necessidade de se recentralizar a política do país.


6.6.2 – Oda Nobunaga e a recentralização do Bakufu:

Desde que o Japão havia mergulhado na descentralização política, vários daimyos haviam iniciado sua política de anexação dos feudos de sua região, com o objetivo inicial de expandirem seus domínios, talvez com o objetivo maior de dominarem todo o arquipélago. A chegada dos estrangeiros fez com que muitos desses daimyos vissem um grande possibilidade de tornarem seu sonho real. Foi justamente o caso de Oda Nobunaga, daimyo de uma região chamada Owari, na costa do oceano Pacífico. Com o sonho sempre declarado de reunificar o país, o daimyo se aliou a outro daimyo de sua região, Tokugawa Iyeyasu, para formar um exército poderoso e começar a por seu plano em prática.

Simpático ao Cristianismo, Nobunaga se aliou aos padres europeus e sendo assim começou a combater os exércitos dos diversos mosteiros budistas. Por ser simpático aos padres cristãos, Nobunaga teve uma grande facilitação na compra de armas de fogo da Europa, sendo assim, formou uma tropa de três mil mosqueteiros, dispostos em três fileiras de mil homens, sendo assim, podiam disparar a cada dez segundos, pois à medida que a primeira fila atirava, a segunda dava um passo à frente e atirava, sendo sucedida pela terceira. Além disso, quem acabava de atirar já começava a recarregar sua arma para atacar novamente dali a trinta segundos. Com uma tropa tão poderosa, em dois anos de campanha (de 1566 a 1568) Nobunaga conseguiu tomar Kyoto, a capital, e sob o pretexto de restaurar os poderes do Bakufu (Shogunato) tornou-se Shogun. No entanto, o Japão ainda não estava totalmente dominado: muitos daimyos ainda precisavam ser pacificados e havia o perigo de uma aliança entre eles contra as forças de Nobunaga. Os europeus conseguiram se manter neutros com relação aos conflitos internos, mas, mesmo assim, mercenários de várias partes da Europa se engajaram em ambos os lados do conflito.

A partir da tomada do poder, Nobunaga passou a assumir a seguinte postura: respeitava a casa Imperial, fazendo-lhe, inclusive, pequenas concessões, desde que esta não o desafiasse. O Shogun também mostrava grande intransigência com a maioria dos mosteiros budistas, por causa de estes serem grandes detentores de tropas e, talvez (trata-se apenas de uma especulação) pelo fato de ele ter se convertido ao Cristianismo (não há dados que comprovem a conversão de Oda Nobunaga, trata-se apenas de uma hipótese). A guerra de Nobunaga contra a mais poderosa corrente budista do Japão, os Ikkoshu, durou oito anos (de 1566 a 1574), quando finalmente o Shogun cercou os religiosos (mulheres e crianças também), na cidade de Nagashima, e ateou-lhes fogo. Mesmo com a eliminação dos Ikkoshu, o Japão ainda não havia sido inteiramente unificado nas mãos do Nobunaga, pois havia muitos daimyos dissidentes.

Oda Nobunaga foi obrigado a abandonar temporariamente suas pretensões de unificação do Japão em prol de organizar os territórios dominados. Nesta tarefa, o Shogun foi igualmente enérgico e cruel, o que aumentou o número de insatisfeitos com seu governo. Em 1582, Akeshi Mitsuhide, um de seus companheiros, o matou e assumiu o poder em seu lugar.


6.6.3 – A Unificação do Japão:

Poucos dias depois que Akeshi Mitsuhide havia assumido o poder, ele foi considerado traidor e deposto. Em seu lugar assumiu o Bakufu um novo Shogun: Toyotomi Hideyoshi. Quando ele assumiu o poder, declaradamente passou a realizar a política de anexar aos domínios do Bakufu tudo aquilo que faltou a Oda Nobunaga, abrindo guerra contra os mais fortes clãs Nipônicos, tais como os Hojo. Em 1590, ele havia conseguido dominar todo o Japão, mas ainda considerava ter um rival muito poderoso mas também seu aliado: Tokugawa Iyeyasu, o antigo daimyo aliado de Oda Nobunaga, e agora seu aliado. Para neutralizar o poder de Iyeyasu, Hideyoshi obrigou-o a se transferir para a cidade de Edo (atual Tokyo), onde ficaria bem distante de Kyoto, que depois de Nobunaga, voltara a ser o centro político do país. Em 1591, o Shogun voltou seus interesses para um projeto muito maior e mais ousado: conquistar a Coréia e a China Ming (dinastia reinante na China da época), para construir um Império pan-asiático. Com esse objetivo, Hideyoshi recrutou mais de 150 mil soldados e os enviou à Coréia divididos em duas tropas. No entanto, a população coreana, recebendo ajuda dos exércitos Chineses, realizou a chamada guerra de guerrilha, derrotando o Japão. Sendo assim, em 1598, o Shogun foi obrigado a assinar com a dinastia Ming um tratado de paz.

Apesar de Toyotomi Hideyoshi ter sido um Shogun marcado por suas campanhas militares, houve outros atos de cunho administrativos que ele tomou que devem ser ressaltados. Primeiro, para evitar os constantes golpes que os samurais aplicavam nos daimyos por ficarem ociosos nos campos, junto aos senhores, o Shogun ordenou que todos os samurais fossem proibidos de executar tarefas de camponeses. Além disso, os obrigou a se transferirem para as cidades mais próximas do feudo de seus daimyos. Para fazer com que sua ordem fosse cumprida, Hideyoshi ordenou o desarmamento de todos os habitantes dos campos.

Além dessa lei de ordem militar, o Shogun tomou outra decisão que se converteu numa lei em vigor até 1872: todas as propriedades agrícolas deveriam calcular seu potencial de produção em sacas de arroz (mesmo que não o produzissem), pagando impostos de acordo com seu potencial de produção de arroz.


6.7 – O Período Tokugawa:

Em 1598, Toyotomi Hideyoshi faleceu em seu castelo, em Osaka. Seu filho, Hideyori, era apenas uma criança, e assim foi designada uma junta formada pelos quatro maiores daimyos do Japão, para servir de regente para o filho do Shogun morto. A junta foi bem sucedida dos nos primeiros meses, mas logo começaram a ficar evidentes as rivalidades dentro dela e o interesse de seus membros de ser o novo Shogun. Sendo assim, em 1599, os cinco pegaram em armas uns contra os outros e iniciou-se um guerra civil no Japão. Tokugawa Iyeyasu era de longe o mais poderoso daimyo do país, e por isso, os outros quatro membros da junta, temendo por suas vidas, se uniram numa facção anti-Tokugawa. A guerra se estendeu do final de 1599 até a dia crucial de 15 de setembro de 1600.

Nesse dia, os exércitos de Tokugawa e de seus antagonistas se encontraram na planície de Sekigahara. Como Ishida Mitsunari havia assumido clara preponderância dentro da facção anti-Tokugawa, os demais daimyos apoiaram Iyeyasu na hora da batalha, ajudando em sua vitória e declarando-o Shogun, título que foi reconhecido pela família Imperial em 1603.


6.7.1 – As reformas do novo Bakufu:

Tokugawa Iyeyasu manteve as reformas de Hideyoshi e inovou em algumas coisas, em especial duas: tornou o Bakufu definitivamente uma instituição de caráter hereditário, eliminando as lutas pelas sucessão Shogunal, e separou definitivamente o Bakufu da casa Imperial, segregando esta última a uma vida de aparências e sem poderes na cidade de Kyoto, enquanto o Bakufu se transferiu para Edo. Ao que parece, Tokugawa Iyeyasu viveu até 1616, mas só governou até 1605, quando entregou o título de Shogun para seu filho, Tokugawa Hidetada. Com efeito, os Shoguns Tokugawa foram muito poderosos desde o princípio: sua vontade era imposta com mão-de-ferro a todo o país e seus poderes perduraram por 264 anos, ou seja, até a restauração Meiji, em 1867 (o Shogunato se iniciou de fato em 1603).

É muito provável que Tokugawa Iyeyasu fosse Cristão, pois durante sua vida, mesmo sob o governo de seu filho, o Cristianismo fez vários avanços no país, bem como as relações comerciais do Japão com os países da Europa da Ásia se intensificaram muito, a tal ponto que entre 1603 e 1633, mais de 300 navios mercantes percorreram as águas do mar até os diversos portos Asiáticos e até Europeus. Além disso, a Companhia Holandesa das Índias Orientais se instalou em Hirado em 1609, enquanto a Companhia Inglesa das Índias Orientais se instala na mesma cidade em 1613. No entanto, quando Iyeyasu morreu, seu filho assumiu de fato plenos poderes e sendo assim, muitas coisas começaram a mudar.


6.7.2 – O Japão se fecha para ao Imperialismo Europeu:

Tokugawa Hidetada não pensava como seu pai, tendo concepções muito diferentes a respeito das relações do Japão para com o resto do mundo. Para ele, a presença dos padres europeus no arquipélago representava um grande perigo à cultura local. Sendo assim, confucionista que era, iniciou uma série de perseguições aos Cristãos Japoneses e aos missionários Europeus. Além da questão religiosa, Hidetada estava começando a se tornar impaciente com as pressões das potências européias, em especial Holanda e Inglaterra, no sentido de maiores concessões comerciais. Para ele, se as concessões fossem maiores, o Japão começaria a ser prejudicado pelo comércio com os Europeus, Logo começou, então, a impor sanções contra as companhias comerciais européias. E não parou por aí.

Em 1617, os missionários são expulsos dos Japão e o Cristianismo é proibido, sendo seus praticantes condenados à morte. Esta medida gerou muita revolta por parte dos Cristãos Japoneses, que começaram a se armar e, em 1637, realizaram a revolta de Shimabara, na ilha de Kyushu. Esse levante foi duramente reprimido por Hidetada, sendo mortos mais de 37 mil cristãos. Calcula-se que, após a derrota dos revoltosos de Shimabara, o Cristianismo tenha sido extinto completamente no Japão. Paralelamente a isso, o Japão fechou-se a toda influência estrangeira. Em 1624 os espanhóis são expulsos, e a eles se seguem portugueses e ingleses, bem como os demais europeus. Aos holandeses foi concedida a autorização para que continuem em Nagasaki até 1640, ano em que foram expulsos.

Como já foi dito acima, entre 1603 e 1633 mais de 300 navios japoneses comercializaram produtos com os diversos portos da Ásia, chegando até a Europa. Esse comércio foi interrompido em 1633, pois o Shogun ordenou que nenhum japonês poderia sair do país a partir daquela data. A partir de 1640, nenhum estrangeiro poderia entrar no Japão.


6.7.3 – O período de isolamento:

Entre 1640 e 1792, o Japão ficou totalmente isolado do restante do mundo, nenhum Japonês saiu do país e nenhum estrangeiro entrou. A religião oficial do arquipélago se tornou o Confucionismo e em cima dele foram desenvolvidos os preceitos básicos de que os Shoguns necessitavam tanto para controlar o país, quanto para justificarem esse controle. Dentro desses preceitos pode-se incluir o Bushido (Bushi + Do, ou seja, o Caminho do Guerreiro), a filosofia de combate que passou a reger a vida dos samurais. Segundo essa filosofia, os samurais deveriam ir para a batalha buscando a morte, sem ter nada a temer.


Foto da corte Shogun pouco antes da restauração Meiji Entre 1792 e 1804, e depois também em 1808, os russos e os ingleses enviam missões ao Japão para exigirem a abertura do país ao comércio europeu. Os enviados não foram recebidos pelo Shogun. O Japão, para impedir novas tentativas, investiu na proteção de sua costa, ameaçando todos aqueles que se aproximassem com ataques a seus navios. Por mais 45 anos o Japão se mantém em total isolamento, até que os Estados Unidos, em 1853, enviarem uma missão diplomática - a primeira missão estrangeira recebida pelo Shogun desde 1640. Chefiada pelo comodoro Perry, a missão tinha o objetivo de estabelecer um contato entre os EUA. e o Japão. Desse encontro começaram a aparecer pressões sutis sobre o Shogun para que o país fosse reaberto ao comércio estrangeiro.

Com o longo governo dos Tokugawa, seu poder já estava um tanto desgastado, e os americanos, percebendo isto, começaram a incentivar um fortalecimento do Shogunato como forma de conseguirem apoio e assim a abertura do Japão.


No entanto, os Shoguns não se deixaram impressionar com tal postura. Assim, apesar de o porto de Yokohama ter sido aberto para o comércio com os EUA, França, Inglaterra, Rússia e Holanda, as pressões mudam no sentido de fazer com que os samurais (revoltados com os desmandos Shogunais) acreditem que o imperador é a única saída para o país. O Shogun começou a sofrer diversas derrotas dos exércitos de samurais leais ao Imperador, até que no final de 1867 ele entrega seus poderes ao jovem imperador Meiji, Matsu-Hito. Depois da restauração, que se concretiza simbolicamente no dia primeiro de janeiro de 1868, o Imperador se esforça para consolidar seu poder, decretando a separação entre budismo e xintoísmo e substituindo o Buddha como principal figura religiosa pela sua própria pessoa. Ou seja, o imperador volta a ser o centro do culto popular Japonês. Em troca do apoio que recebeu dos países europeus e dos E.U.A., Matsu-Hito abre os portos dos país ao comércio exterior. A partir dessa época, o Japão entra na sua Idade Moderna. No entanto, sua Idade Contemporânea só chegará quando as pretensões de cunho fascista de Hirohito caem por terra com as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, em 1945.

Matsu-Hito Meiji: com ele o Japão entrou numa nova era de sua História

8 – Conclusão:

Todo texto tem um porquê de ser escrito, e este não é diferente. O que me motivou a escrever sobre os Japoneses no período destacado foram duas coisas:

1ª) Tudo o que se estudo a respeito do Japão, tanto na escola (ensinos fundamental e médio), quanto na faculdade (exceto no caso de uma especialização (pós-graduação ou iniciação científica)) sobre o Japão diz respeito ao período posterior a Era Meiji, que se inicia com a restauração Meiji. Dessa forma, surge uma imensa lacuna no que se refere ao passado mais distante do Japão, com seus samurais, castelos, daimyos e Shoguns. Por isso, desejava que um texto meu pudesse contribuir para preencher esta lacuna naqueles que se interessarem.

2ª) Quando comecei a pensar em escrever sobre o Japão, confesso que só tinha a primeira razão para escrever. É certo que sempre me interessei pela História desse país, mas isso se devia ao fato de eu gostar de História e ser praticante de artes marciais japonesas. No entanto, quando comecei a levantar e ler a bibliografia para o trabalho, pude aprender muito (como a maioria das pessoas, eu sabia muito pouco sobre o Japão nos períodos anteriores a Restauração Meiji) e a perceber o quão grandes (ao menos para mim parecem) são semelhanças entre a História da Europa e a do Japão. Assim, formulei uma teoria e decidi que, se chegasse à conclusão de que ela estava correta, faria de tudo para prová-la neste texto. Por isso escrevi aquele item sobre como nascem, crescem e evoluem as diversas civilizações de uma maneira semelhante. Agora que o trabalho está terminado, modestamente eu creio que consegui cumprir minhas duas aspirações: expliquei um pouco da civilização japonesa num período que é obscuro para a maioria das pessoas e penso também ter conseguido provar muitas semelhanças entre a História do Japão e a da Europa. Não cabe aqui retomar todas as idéias contidas no texto, mas creio que um bom conhecedor da História Européia, poderá facilmente enxergar na estruturação do Império Japonês algumas semelhanças com o Império Romano, bem como o posterior enfraquecimento do Império pode ser comparado às invasões bárbaras que ocorreram em Roma. Da Idade Média nem se fala, pois são muito parecidas e até mesmo divididas em três partes: uma alta Idade Média onde está em desintegração o regime Imperial; uma Idade Média Central, onde o "feudalismo" impera; e uma baixa Idade Média, onde há uma busca da recentralização do poder, além dos interesses mercantis começarem a aflorar.

Posteriormente, na Idade Moderna, ou seja, entre a Restauração Meiji e as bombas atômicas, o Império está restaurado (na Europa de forma fragmentada, ou seja, em vários países) e busca sua expansão (territorial e financeira), com colônias e guerras. Por fim, a Idade Contemporânea se inicia quando o Japão, bem como a Europa (na minha concepção), se adequam a um mundo primeiramente bipolarizado e posteriormente multipolarizado, ou mesmo globalizado. Isso, para mim, é uma prova de que minha teoria estava correta. Pode até ser que não esteja, mas o fato é que se trata de uma teoria e deve ser levada em consideração.


9 – Bibliografia:

à ALLEMAND-BAUSIER, Sylvie, coord.. Civilizações Antigas. à COLLCUTT, Martin; JANSEN, Marius; KUMAKURA, Isao. Japão: O Império do Sol-Nascente. Vols. 1 e 2. à GÖÖCK, Roland. As Maravilhas do Mundo. à LOYN, H. R. org. Dicionário da Idade Média. à KAN, Lai Po. Os Chineses. à Vários. Grande Enciclopédia Delta Larousse.


Obs.: Além da bibliografia referida, utilizei em minha pesquisa sites encontrados em sites de busca com as seguintes palavras-chaves: Budismo, Xintoísmo, Japão, Confúcio, Buda e Taoísmo

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